No dia 28 de abril, as atenções dos brasileiros começaram a se voltar para o Rio Grande do Sul, que começava a viver a pior tragédia climática do país. As chuvas que caíram no Estado provocaram inundações em muitos municípios, incluindo a capital, Porto Alegre, afetando 90 por cento das cidades gaúchas.

Até sexta-feira (17), a Defesa Civil contava 154 mortos, 98 pessoas desaparecidas, 78 mil desabrigados e 2,2 milhões de adultos e crianças impactados de alguma maneira com a tragédia.

A catástrofe causou enorme comoção e mobilizou milhares de trabalhadores. Além das equipes do governo estadual gaúcho e dos municípios afetados irem a campo para resgate e salvamento de vítimas, limpeza obras emergenciais, uma legião de profissionais de diversas áreas e de todas as partes do país se deslocou para Porto Alegre e cidades do interior para, de forma voluntária ou não, exercer o seu ofício.

Rapidamente, governos federal e de outros estados brasileiros se mobilizaram para enviar forças de segurança e equipes médicas. Em poucos dias, o Brasil estava totalmente envolvido com a dramática situação do Rio Grande do Sul.

Nesta edição do fim de semana (18 e 19), a FOLHA conversou com dois londrinenses que foram até o Rio Grande do Sul a trabalho. Uma médica veterinária que chegou nesta semana a Porto Alegre para ajudar voluntariamente na recuperação dos animais resgatados nas enchentes e um fotógrafo que passou cerca de dez dias registrando as cenas desoladoras provocadas pela enchente.

A médica veterinária Camila Mello conta a dramática situação dos poucos profissionais que estão cuidando voluntariamente dos animais separados de seus tutores que foram resgatados e agora dividem uma grande estrutura montada pela Ulbra (Universidade Luterana do Brasil).

“É como se eu estivesse na série The Walking Dead, mas num cenário de guerra. É clichê, mas não tem outra definição melhor do que essa. Tudo abandonado, tudo fora de lugar, revirado, as coisas alagadas. É inexplicável”, definiu. Para cuidar de cerca de cem cães, Mello contava apenas com a ajuda de outro médico veterinário.

Outro londrinense, o repórter fotográfico Isaac Fontana chegou a Porto Alegre na primeira semana de maio. Radicado em São Paulo, Fontana trabalha para a agência de notícias espanhola EFE e foi cumprindo essa função que desembarcou na capital gaúcha, poucos dias após o início das cheias no Rio Grande do Sul.

Foram cerca de dez dias de muito trabalho. Além de Porto Alegre, Fontana registrou os efeitos da tragédia climática nos municípios vizinhos de Eldorado do Sul e Canoas. “No interior, a imagem era de Katrina (furacão que devastou o sul dos Estados Unidos, em 2005). Tudo embaixo da lama. Canoas e Eldorado do Sul foram muito impactantes.”

As imagens eternizadas por Fontana rodaram o mundo e foram parar nas páginas de grandes veículos de imprensa internacionais, como The New York Times, The Washington Post e Al Jazeera.

"O que instiga na profissão é que a gente vai para onde ninguém quer ir, a gente está indo quando todo mundo está saindo dos lugares", afirma o fotógrafo, já em sua casa, em São Paulo. Mas quem passa por uma experiência como essa, não volta a mesma pessoa.

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