Bangcoc - Após uma saga de anos na Justiça, o australiano Julian Assange, que deixou a prisão no Reino Unido, embarcou nesta terça-feira (25) para uma ilha americana no Pacífico, onde o fundador do WikiLeaks vai se declarar culpado perante um tribunal, após fechar um acordo que lhe permitirá reconquistar a liberdade.

Na mira dos Estados Unidos por ter divulgado centenas de milhares de documentos confidenciais, Assange era esperado durante a noite em um tribunal federal das Ilhas Marianas do Norte, segundo documentos da Justiça.

"Julian Assange está livre" e deixou o Reino Unido e a penitenciária de segurança máxima perto de Londres onde permaneceu detido por cinco anos, informou o WikiLeaks na rede social X.

Após embarcar no aeroporto de Stansted, em Londres, Assange pousou em Bangcoc, na Tailândia, na tarde desta terça-feira para uma escala técnica, antes de seguir para as ilhas, onde deve se declarar culpado de "conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional", segundo os documentos judiciais.

Assange pode ser condenado a 62 meses de prisão. Por já ter cumprido esse período de prisão preventiva em Londres, espera-se que ele possa seguir em liberdade para a Austrália.

Assange "será um homem livre depois que o acordo for ratificado pelo juiz" na quarta-feira, explicou à BBC a mulher dele, Stella Assange.

O acordo implica que seu marido se declare culpado de uma única acusação, que "diz respeito à obtenção e divulgação de informações sobre a defesa nacional", explicou.

A mãe dele, Christine Assange, disse estar agradecida pelo fim do "calvário" do filho. "Isso mostra a importância e o poder da diplomacia secreta", afirmou.

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, um dos advogados de Assange, comemorou que ele "possa, finalmente, ser um homem livre, após quase 14 anos de luta privado de liberdade, nas condições mais adversas".

O governo australiano manifestou que o caso já havia se prolongado demais e que já não havia nenhum interesse na prisão de Assange.

A porta-voz do Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direito Humanos, Elizabeth Throssel, celebrou a libertação de Assange e "os avanços significativos para uma solução definitiva do caso", que "gerou uma série de preocupações relacionadas aos direitos humanos", acrescentou.

"Não deveria ter sido privado da liberdade por nenhum dia por ter publicado informações de interesse público", disse Rebecca Vincent, diretora da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou "uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa". "O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje", acrescentou.

Stella Assange fez um apelo por uma campanha de financiamento para pagar os 520 mil dólares que seu marido deve reembolsar ao governo australiano depois de fretar o voo entre Londres e a Austrália.

O acordo, que encerra uma saga de quase 14 anos, que inclui sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres, foi anunciado duas semanas antes de uma audiência crucial nos tribunais britânicos.

Nos dias 9 e 10 de julho, o recurso de Assange contra a sua extradição para os Estados Unidos seria examinado.

Desde 2019, quando ele foi levado para uma prisão de segurança máxima em Londres, Assange lutava para não ser entregue à Justiça americana, que o persegue pela publicação de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas, em particular no Iraque e Afeganistão.

O australiano, alvo de 18 acusações, enfrentava o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão com base na Lei de Espionagem.

O governo britânico aprovou a extradição em junho de 2022. Em maio, no entanto, dois juízes concederam o direito de apelação.

O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, de onde tentou evitar a extradição para a Suécia em uma investigação por estupro, que foi arquivada no mesmo ano.

Nos últimos anos, a pressão aumentou para que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, retirasse as acusações contra ele. A Austrália apresentou um pedido formal em fevereiro, que o presidente democrata afirmou que estava considerando.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, disse que, por se tratar de um assunto legal em andamento, não lhe parecia "apropriado fazer comentários neste momento".