Bruxelas, Bélgica - Apelidado de "açougueiro da Bósnia" ou "carniceiro dos Bálcãs", o ex-líder militar sérvio Ratko Mladic (pronuncia-se Mladitch) teve mantida nesta terça (8) sua condenação à prisão perpétua por crimes de guerra e considerado culpado de genocídio. O veredito é final: não cabe mais apelação.

Mladic, 79, havia recorrido ao tribunal das Nações Unidas para a ex-Iugoslávia em Haia de condenação pelo maior massacre em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial: a morte de mais de 8.000 pessoas na cidade de Srebrenica, em julho de 1995.

O massacre ocorreu durante guerra civil da ex-Iugoslávia que, entre 1992 e 1995, deixou mais de 100 mil mortos e fez 2,2 milhões de refugiados.

Mladic foi condenado em 10 de 11 acusações --entre elas limpeza étnica, terrorismo, tomada de reféns e ataques ilegais contra civis, especialmente croatas e muçulmanos bósnios. Os cinco juízes também atenderam a pedido do procurador da ONU, Serge Brammertz, de incluir genocídio, acusação que sua defesa considerava infundada. De acordo com seus advogados, Mladic foi "arrastado" para o conflito.

O "açougueiro" comandava milícias sérvias que se opuseram à independência da Bósnia e lutaram para anexá-la à Sérvia. Ele liderou a conquista de Srebrenica, cidade então designada como zona de segurança pela ONU e protegida por soldados de paz holandeses --que usavam armamentos leves.

Sob o comando do general, durante dez dias foram separados e depois expulsos idosos, mulheres e crianças. Todos os homens e jovens em idade de lutar foram levados a florestas da região, executados e jogados em valas comuns --cerca de 1.200 vítimas não foram identificadas até hoje.

O massacre levou à intervenção da Otan (aliança militar entre países europeus e norte-americanos), reequilibrando o poder dos sérvios e levando aos acordos de paz de Dayton. Após 16 anos foragido, Mladic foi preso pela Sérvia em 2011 e extraditado para o tribunal em Haia.

No julgamento, falaram testemunhas de uma de suas primeiras ações, ainda como coronel do Exército do Povo Iugoslavo, em 1992. O militar comandou o ataque a croatas e muçulmanos na aldeia de Kijevo, para promover uma "limpeza étnica" da região, segundo ex-moradores.

Quando a guerra estourou, em 1992, Mladic passou a liderar o esforço armado do presidente Slobodan Milosevic para integrar o território bósnio à autoproclamada República Sérvia. De acordo com relatos durante seu julgamento, o militar comandou uma limpeza étnica de grande escala, expulsando, prendendo ou matando não sérvios em cidades e vilas do norte e leste da Bósnia.

As forças de Mladic também bombardearam Sarajevo, a capital da Bósnia, matando 10 mil civis, entre eles 1.500 crianças.

A sentença deve ser o último ato do julgamento de um dos maiores crimes de guerra das últimas décadas. Além de Mladic, três líderes militares já haviam sido condenados - dois deles se suicidaram depois --e dois morreram antes de serem sentenciados.

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