"Fim de Caso", adaptação da obra de Graham Greene, estréia na sexta13/Mar, 15:19 Por Luiz Carlos Merten São Paulo, 13 (AE) - Depois que o thriller paranormal "Premonição" quase acabou com sua reputação, Neil Jordan sentiu que devia voltar a um tipo de trabalho mais comprometido. Aliás, tem sido assim em sua carreira. Após o primeiro vexame hollywoodiano (Não Somos Anjos), fez um de seus melhores filmes e certamente um dos mais pessoais - "À Procura do Destino". Para purgar-se de "Premonição", ele fez agora "Fim de Caso". O filme concorre aos Oscars de atriz (Julianne Moore) e fotografia. É uma adaptação do livro de Graham Greene. Na aparência, uma história de amor e ciúme, mas Jordan gosta de desmontar as aparências. Um homem desespera-se porque sua mulher tem um amante. Conta tudo a um amigo, sem saber que é ele o amante. O amigo, impulsionado pelo ciúme, vai contratar um detetive para que investigue a vida dela. Tudo isso numa narrativa com rupturas de tempo e que tem a 2.ª Guerra como quadro. É um belíssimo filme. Comporta uma intensa cena de sexo, material que Jordan sabe (e gosta de) tratar. O cineasta está de volta ao seu melhor nível. Acabaram-se as citações e auto-referências com que tentou rechear "Premonição", de forma a querer disfarçar como projeto pessoal o que era, na verdade, uma encomenda caça-níqueis. Jordan encontrou um material denso no livro de Greene. Relações de amor, amizade, lealdade - e o ciúme. O movimento que aproxima e afasta as pessoas, o que as torna dependentes. O marido, Stephen Rea, aceita tudo para que a mulher fique a seu lado. Na iminência de perdê-la, pede ajuda ao amante. O amante, Ralph Fiennes, desconfia da amada, envenena a relação. Tudo isso está no livro, mas não basta para captar a essência de Greene. Fim de Caso é um de seus livros mais sombrios. Chegou a ter como título "Crepúsculo de um Romance". À definição de escritor católico, o atormentado Greene preferia a de católico que escrevia. Não professava nenhum fundamentalismo. Era antes um católico jansenista, que acreditava que só a graça de Deus pode salvar o homem. Tinha uma simpatia irrestrita por movimentos de esquerda. Greene queria libertar o homem e não apenas no sentido místico e religioso. No fim do seu diário de um cura de campanha, Georges Bernanos escreveu que tudo é graça. Greene acreditava que tudo é milagre, sendo a própria graça um milagre cotidiano, de cujas consequências só Deus possui o segredo. Havia um milagre em "Não Somos Anjos" e não se pode esquecer que "À Procura do Destino" se chama "The Miracle" no original. O milagre volta em "Fim de Caso", quando Jordan reescreve Greene. A mulher apaixonada sacrifica seu amor numa promessa. O milagre opera-se no rosto do menino (que não existe no livro, é uma criação inspirada do diretor) quando vira a face para a câmera no desfecho. E é também um milagre de estilo. Jordan fez o que não é frequente no cinema atual - um filme adulto sobre sentimentos.