Em até 90 dias deverá ser lançado o edital para comercialização das áreas da Cidade Industrial de Londrina. Vencida essa etapa, as empresas selecionadas para operar no local poderão elaborar os seus projetos e a expectativa é que até o final deste ano as indústrias estejam trabalhando na instalação de suas unidades fabris. Apontada pela administração municipal como um “marco na história da cidade”, a implementação do complexo é a grande aposta para alavancar o setor da indústria e impulsionar o desenvolvimento econômico, com a geração de empregos e o incremento na arrecadação de impostos.

Embora não seja o principal setor na abertura de novos postos de trabalho, tanto em Londrina quanto na maior parte do país, as movimentações na indústria têm forte impacto econômico. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) calcula que a cada R$ 1 produzido na indústria nacional, R$ 2,43 retornam à economia, uma das razões pelas quais este setor é apontado como estratégico no processo de desenvolvimento. A potência da produção industrial fica ainda mais evidente quando comparada com outros setores. No agronegócio, a proporção é de R$ 1,75 para cada R$ 1 produzido e, no comércio e serviços, R$ 1,49.

No cenário local, o fortalecimento da indústria é considerado um fator indispensável para alavancar a economia, especialmente o mercado de trabalho. “Em que pese uma das características da economia de Londrina ser a diversificação, não há dúvida de que entre os setores econômicos, a indústria tem um papel muito importante. Tem uma capacidade de acrescentar transformação dentro da cidade, o que aumenta o PIB (Produto Interno Bruto) e agrega valor”, disse o presidente da Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), Fábio Cavazotti.

A criação de empregos no município vai bem. Desde agosto de 2020, quando o país estava apenas no início do enfrentamento da pandemia de Covid-19, o balanço do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, praticamente só apontou resultados positivos.

Com exceção dos meses de dezembro, historicamente marcados por questões sazonais, e maio de 2021, o saldo entre admissões e desligamentos no período de 45 meses tem se mantido no azul. Nos últimos 12 meses, são 3.721 o número de vagas criadas. Mas há sinais de declínio. Em abril deste ano, Londrina contabilizou 272 novas vagas de trabalho. Ainda que positivo, o saldo aponta recuo de 31,48% ante março. E em março, já havia ocorrido uma queda de 74,13% em relação a fevereiro. Na comparação com abril do ano passado, também houve redução, de 20,23%. Naquele mês, foram abertas 341 vagas com carteira assinada.

Falar em tendência de retração, neste momento, seria prematuro. É preciso aguardar o resultado de maio. Mas os dados do Caged em abril colocaram Londrina na 16ª posição na geração de vagas de emprego no Paraná, abaixo de municípios com contingente populacional bem menor, como é o caso de Rolândia. Com 71.670 habitantes, o que corresponde a 12,89% da população total londrinense, segundo dados do censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município da Região Metropolitana de Londrina encerrou abril na 11ª posição no ranking estadual, com saldo de 299 vagas. Londrina também ficou atrás de Cambará. Com 25.569 habitantes, a cidade localizada no Norte Pioneiro registrou 275 postos de trabalho e garantiu a 15ª colocação no Estado.

Na temida comparação com Maringá (Noroeste), a diferença é ainda maior. Em terceiro lugar, atrás apenas de Curitiba (2.907) e São José dos Pinhais (1.186), o mercado de trabalho maringaense teve saldo positivo de 1.112 vagas no mês passado.

O secretário municipal do Trabalho de Londrina, Gustavo Santos, avalia os resultados do Caged com tranquilidade em razão do histórico dos últimos anos. “A cidade está madura no ecossistema da empregabilidade. O número mais alto ou mais baixo, pontualmente, tem um significado expressivo, porém, são 12 mil novos postos inseridos na cidade em 16 meses. E temos cerca de 600 oportunidades de emprego ofertadas através do Sine. Fora o que o ecossistema oferta de maneira particular.”

Santos destacou o empenho conjunto do poder público com a sociedade civil organizada para impulsionar o mercado de trabalho no município. “Temos todo o ecossistema, as entidades, a sociedade civil organizada, o poder público e o Sistema S envolvidos em busca dessa melhor qualidade do emprego. Quando a Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) fazem um movimento e estabelecem um programa da nova (rua) Sergipe ou da nova (avenida) Duque (de Caxias), não é simplesmente o comerciante vender mais, mas é gerar mais renda e, consequentemente, mais trabalho e emprego”, comentou o secretário. “Hoje, toda a sociedade civil organizada de Londrina tem uma visão para o mesmo campo, que é o crescimento da cidade como um todo.”

O economista Marcos Rambalducci apontou que a partir do resultado de maio será possível analisar se as reduções dos últimos meses ocorreram por uma acomodação ou se Londrina entrou em um processo de menor geração de vagas.

Na análise do histórico acumulado desde 2020, o economista ressaltou que os saldos negativos nos meses de dezembro são esperados em razão dos desligamentos. Os setores em geral, especialmente a indústria, aproveitam o período de férias coletivas para “‘limpar’ possíveis crescimentos de passivos trabalhistas.

Esse movimento de baixa observado em dezembro ajuda a compreender os saldos positivos mais expressivos registrados sempre no início de cada ano. “Assim que retornam (das férias) encontram um represamento de pedidos que exige que façam as contratações para compensar os desligamentos de dezembro e ajustam essas contratações de acordo com o volume represado. Por isso, é normal termos um nível de contratação maior nos dois primeiros meses do ano”, disse o economista.

Com base nesse comportamento, Santos estima que se o município registrar mais dois picos de emprego até o final do ano e os números se mantiverem estáveis, Londrina deverá encerrar 2024 com um saldo acumulado de postos formais de trabalho superior ao do ano passado.

“Há um trabalho sendo feito não só pela prefeitura, mas em parceria com todos os segmentos, de fortalecimento do setor industrial, de maneira que uma das ações principais é a construção da Cidade Industrial”, destacou Cavazotti. Inicialmente previstas para serem entregues em 2019, as obras do complexo industrial, na zona norte, sofreram inúmeros contratempos, mas o presidente da Codel afirmou que o leilão para escolha das empresas deverá acontecer no segundo semestre e as vencedoras poderão dar início a seus projetos ainda em 2024.

A indústria de alimentos cearense J. Macêdo será a âncora do complexo, com previsão de gerar 200 empregos diretos inicialmente e outros 800 postos de trabalho na fase final. A empresa já iniciou as obras de implementação de seu parque fabril. Mas ao todo, a Cidade Industrial comportará pelo menos mais 55 indústrias. “As atividades que essas empresas vão desenvolver, na fase de instalação, a gente já vai ter um movimento, por exemplo, nas empresas de projeto de engenharia. É uma fase interessante, depois vem a construção civil e depois, efetivamente, a realização do serviço de cada uma dessas empresas. São várias etapas que já vão trazendo benefícios econômicos para a cidade”, pontuou Cavazotti.

A expectativa do município é ampliar a participação da indústria na geração de empregos. Dos 3.721 postos criados no acumulado dos últimos 12 meses, cerca de 63% foram no setor de serviços, seguido pela construção (16%) e só em terceiro vem a indústria, com 12,55%. “O crescimento deste setor impulsiona o crescimento dos demais setores da economia”, destacou o economista e professor do curso de economia da Faculdade Anhanguera, Élcio Cordeiro da Silva. Impulso motivado em boa parte pelos salários que, segundo a CNI, na média são maiores que o registrado no país para pessoas com ensino médio e superior completo.

“Assim, é possível dizer que o desenvolvimento da atividade industrial na cidade pode elevar a renda média do trabalhador londrinense como um todo, uma vez que essa renda maior gerada pelo setor industrial local tende a ser gasta nos demais setores econômicos do município, propiciando uma maior receita para os empresários locais, e consequentemente, condições para que eles proporcionem salários maiores para os seus colaboradores”, disse Silva, salientando ainda que o crescimento do setor industrial eleva a produtividade dos demais setores da economia.

Vista aérea de Rolândia. na Região Metropolitana de Londrina
Vista aérea de Rolândia. na Região Metropolitana de Londrina | Foto: Roberto Dziura Jr./AEN

Indústria impulsiona geração de vagas em Rolândia

Boa parte das 299 vagas com carteira assinada criadas em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) no mês passado foram abertas na indústria, especialmente nos frigoríficos. As unidades da Lar Cooperativa Agroindustrial e da JBS lideraram as contratações. “Tivemos aqui, nesses últimos 60 dias, uma demanda muito grande de empresas. Também realizamos feirões de empregos, com a oferta de vagas”, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de Rolândia, Horácio Negrão.

O secretário ressaltou que além de conquistar a 11ª posição no ranking estadual, o resultado apontado pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) em abril colocou o município na 15ª colocação nacional entre as cidades cuja faixa populacional vai de 70 mil a 80 mil habitantes.

O desempenho, avaliou Negrão, é consequência de investimentos no setor. “A gente tem trabalhado na capacitação. No ano de 2023, formamos 250 pessoas em diversos cursos, como mecânica industrial, eletricista industrial, porteiro, na área de recursos humanos, auxiliar de escritório. O município tem fornecido gratuitamente esses cursos para a população.”

Despertar nos jovens o interesse pela qualificação profissional também tem sido a aposta da administração municipal para fortalecer o mercado de trabalho rolandense. “Trabalhamos com alunos de escolas públicas com as trilhas de inovação”, comentou o secretário. “Hoje, tem vagas de empregos para muita gente daqui e da região. Há empresas que estão fretando ônibus para buscar trabalhadores em cidades localizadas em um raio de cem a 150 quilômetros.”

Segundo o secretário, ajudam a compor o quadro de trabalhadores os imigrantes, como venezuelanos, haitianos e oriundos de países africanos. “A nossa média salarial é de 2,3 salários mínimos. Dependendo da qualificação, é uma boa remuneração”, afirmou o secretário.

A força de trabalho local também tem se deslocado para municípios vizinhos, ajudando a impulsionar o mercado de trabalho na região. “Empresas da região também têm utilizado os serviços do nosso Sine para oferecer vagas de trabalho. Muitas pessoas têm conseguido emprego em cidades vizinhas”, disse Negrão.

Para os próximos meses, o secretário estima que ocorra uma queda na geração de vagas, mas ainda mantendo os saldos positivos. “Ainda tem demanda.”(S.S.)