Hoje em dia se usa muito, principalmente nos ambientes corporativos, a expressão ‘pensar fora da caixa’. Essa expressão surgiu da frase inglesa ‘thinking outside the box’ com o significado de pensar de forma inovadora, criativa e além dos padrões convencionais. Quem ‘pensa dentro da caixa’ segue tudo aquilo que é conhecido e não conta com nenhuma originalidade, repetindo os mesmos padrões e atitudes, enquanto quem ‘pensa fora da caixa’ descobre novos caminhos. Todo o mundo, atualmente, é meio que incentivado a pensar fora da caixa, mas isso continua sendo difícil e até impossível para muitas pessoas.

Olhando através de um vértice psicanalítico é muito mais verdadeiro dizer que não se trata de ‘pensar fora da caixa’, mas de ‘estar do lado de fora da caixa’. Brincando aqui com essa expressão ‘estar do lado de fora da caixa’ implica em ocupar, dentro de nós mesmos, uma outra posição. Se não saímos de determinadas posições que adotamos não temos a menor chance de pensar de maneira diferente.

Ficar dentro da caixa é quando ficamos apegados às nossas crenças, certezas e teorias que vamos acumulando ao longo da nossa existência, seja porque as criamos ou porque nos foram impostas pelas pessoas com quem convivemos. Essas ‘amarras’ nos dão certa sensação de segurança porque nos ditam o que é certo e errado ou como as coisas e nós devemos ser, mas também aprisionam impedindo de olharmos para nós e para a vida através de outros ângulos. Se estivermos aprisionados vamos pensar dentro desses limites, mas se estivermos livres temos a oportunidade de olhar e experimentar tudo de uma maneira nova.

Freud só pôde criar a psicanálise quando ousou indagar as crenças existentes da época. Naquele tempo o sofrimento mental não era considerado seriamente e nem possuía tratamento digno, mas ao se permitir ouvir suas pacientes (no começo as primeiras pacientes eram mulheres) começou a aprender coisas importantes sobre o funcionamento mental. Não parando aí foi além e Freud passou também a olhar de uma maneira inédita para a sua própria mente e com tudo isso criou a psicanálise que até hoje se desenvolve e ganha novas conquistas e desdobramentos. Isso só foi possível, contudo, porque Freud se permitiu não ficar amarrado por pensamento seguros de seu contexto histórico e ousou explorar áreas desconhecidas e até assustadoras dentro de si mesmo e dos outros.

O ‘ficar dentro da caixa’ nos impede de viver nossos relacionamentos e oportunidades pela vida afora porque não há como expandir. Porém, expandir gera angústias porque não há limites claros, fazendo com que vamos aprendendo através de experiências, tolerando as incertezas. Essa história de pensar fora da caixa não é algo novo, que se fala só agora, como muitos acreditam, mas já existe há séculos. Platão, na Antiga Grécia, ao escrever sobe o Mito da Caverna fala justamente da necessidade de sairmos de nossas crenças limitadoras que nos aprisionam e perpetuam a ignorância para um mundo novo, repletos de dimensões desconhecidas. De uma maneira muito inteligente ele nos legou desde a antiguidade que precisamos mudar de posição. Sair da caverna ou da caixa, se você preferir, para outro lugar mais aberto e com muito mais possibilidades.

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