Um zilhão de perguntas
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de fevereiro de 2018
Por Paulo Briguet
![Imagem ilustrativa da imagem Um zilhão de perguntas](https://www.folhadelondrina.com.br/img/2018/02/0x800/img_1793.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2F2018%2F02%2Fimg_1793.jpg%3Fxid%3D4427194&xid=4427194)
Meu amigo Silvio, que é sociólogo formado na USP (embora incrivelmente não seja de esquerda), conversava com seu filho Tomás, que tem seis anos. Pai e filho estavam no carro, no trajeto da escola para casa.
Pai, quantos algarismos tem o milhão?
7.
E o bilhão tem 10, né?
Isso.
E o trilhão?
13. É um número bem grande.
E o quadrilhão?
São mil trilhões. Acho que são 16 algarismos.
Hummm... a Luísa me falou que tem um número chamado zilhão.
Não. Isso não é o nome do número. É só uma expressão, uma forma que usamos para falar de um número muito grande que não sabemos determinar. Por exemplo, quanto é um quadrilhão vezes um milhão? Você responde, sei lá, é um zilhão!". Quantos grãos de areia tem numa praia? "Sei lá, um zilhão". É um jeito de falar qualquer quantidade muito grande que não dá nem pra contar. Entendeu?
Sim.
Trinta segundos de silêncio.
Papai, você se lembra que os números são infinitos, né?
Claro.
Então há muita chance de ter algum número lá pra frente chamado zilhão, né?
É... pensando bem, parece que sim.
Uai, por que se é infinito, não acaba nunca, vai faltar nome pra tanto número então deve ter algum chamado zilhão.
Você tem razão.
Pode ser que não tenha também, né? Mas a probabilidade é grande.
Silêncio novamente.
Chegamos, Tomás, vai tirar o calçado e fazer a tarefa da escola.
*******
O mais incrível é que o pequeno Tomás parece usar a mesma metodologia aplicada pelo seu xará Tomás de Aquino no século XIV, ou seja, há mais de 700 anos. Na sua obra magna, a "Suma Teológica", o Doutor Angélico submete todas as questões importantes da teologia a uma série de perguntas e respostas diferentes e até mesmo antagônicas entre si, esmiuçando um determinado aspecto da realidade por todos os ângulos possíveis. É o que se chama de método escolástico.
Por exemplo:
A misericórdia convém a Deus?
PARECE QUE a misericórdia não convém a Deus, porque é uma espécie de tristeza e um relaxamento da justiça.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz o Salmo 110: "O Senhor é benevolente e misericordioso".
RESPONDO: A misericórdia deve ser ao máximo atribuída a Deus; porém, como efeito e não como emoção, fruto da paixão. Deve-se dizer que Deus age misericordiosamente, não que faça qualquer coisa contra a sua justiça, mas algo que ultrapassa a sua justiça. Por exemplo, se alguém dá duzentas moedas a quem são devidas duzentas moedas. Esse homem não age contra a justiça; age, porém, por liberalidade ou misericórdia. Fica claro que a misericórdia não suprime a justiça, mas é, de certa maneira, a plenitude da justiça.
O problema é que este outro Tomás a gente não pode mandar tirar o calçado e fazer a tarefa.
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