Brasília - O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, confirmou nesta terça-feira (11) que investigadores descobriram uma nova joia que foi negociada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos. O novo elemento robustece as apurações sobre as transações de artigos de luxo feitas por Bolsonaro e seus aliados e configura um agravamento do caso.

O diretor deu a declaração em entrevista à imprensa nesta terça-feira (11).

"A nossa diligência localizou que, além dessas joias que já sabíamos que existiam, houve negociação de outra joia que não estava no foco dessa investigação. Não sei se ela já foi vendida ou não foi. Mas houve o encontro de um novo bem vendido ou tentado ser vendido no exterior", afirmou Andrei.

"Tecnicamente falando, isso robustece a investigação que se tem feito", disse o diretor.

Segundo ele, a expectativa é que o caso seja concluído ainda em junho.

A descoberta sobre a nova joia ocorreu durante diligências da PF nos EUA. A ida da polícia ao país se deu no âmbito de uma cooperação internacional com o FBI, a polícia federal dos EUA. O acordo tem o nome de Mutual Legal Assistance Treaties.

A tendência, dizem investigadores, é que Bolsonaro seja indiciado no caso por peculato, com pena de 2 a 12 anos de prisão e multa. Nesse caso, a prisão em regime fechado pode ocorrer se a pena final total for superior a oito anos. Penas entre quatro e oito anos podem ser cumpridas em regime semiaberto.

De acordo com Andrei, o inquérito que investiga fraudes no cartão de vacinação de Bolsonaro também deve ser concluído em junho.

O relatório desta investigação já havia sido enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu diligências adicionais, que já foram concluídas.

ABIN PARALELA

Andrei Rodrigues disse também que investigadores negociam colaborações premiadas na apuração sobre a existência de uma Abin paralela durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com Andrei, a perspectiva é que o inquérito seja concluído em julho ou agosto.

"Estamos [na fase de] diligências finais, tem a possibilidade de colaboração de investigados", afirmou o diretor-geral.

A Abin está no foco de investigação da PF desde março do ano passado, quando veio à tona a informação de que a gestão Bolsonaro usou o software FirstMile para investigar ilegalmente adversários políticos por meio da localização geográfica de telefones celulares.

O inquérito já resultou em duas operações com prisões e buscas e apreensões, uma em outubro e a mais recente em janeiro.

Segundo a Folha apurou, a PF abriu pelo menos mais um inquérito ligado ao caso para apurar tentativa de obstrução de justiça da atual diretoria em investigações relativas à Abin.

Após a conclusão do inquérito central sobre a agência, a PF deverá abrir outras investigações relacionadas a cerca de cem dossiês produzidos na gestão passada que teriam indícios de ilícitos.

O FirstMile é um software de monitoramento produzido pela empresa israelense Cognyte —antiga Suntech/Grupo Verint. O programa foi usado pela Abin entre 2019 e 2021.

A PF usa como evidência um e-mail entre integrantes da Abin e funcionários da empresa para sustentar que o software era utilizado para invadir a rede de telefonia e acessar dados de localização.

O FirstMile foi adquirido pela Abin no governo de Michel Temer por R$ 5,7 milhões. Caio Cesar dos Santos Cruz, filho do ex-ministro do governo Bolsonaro Santos Cruz, era um dos representantes da empresa.