Muitos talvez não saibam, mas o mês de maio é conhecido nacionalmente por “Maio Amarelo”. O movimento visa alertar sobre o alto índice de mortos e feridos em infrações de trânsito e colocar em pauta o tema segurança viária para mobilizar toda a sociedade. A campanha é realizada sempre nesse mês e acontece em todas as cidades, estados e países, e mobiliza governos, empresas, organizações não governamentais e a comunidade em geral.

O tema deste ano é “Paz no trânsito começa por você”, mas me pergunto, será mesmo? Na minha opinião, a responsabilidade, na verdade, se inicia pelos gestores e tomadores de decisão. E quando falo sobre isso, trago a discussão também acerca da construção de infraestrutura necessária para todos, principalmente pedestres e ciclistas, que acabam sendo mais vulneráveis quando o assunto é sinistro de trânsito.

A falta de investimento em transporte público, calçadas e ciclovias é histórica. É necessário avançar na priorização de políticas e investimentos em transporte público de qualidade e adequado, bem como desestimular o uso de transportes motorizados individuais, fomentar o uso da bicicleta e difundir o direito dos ciclistas e pedestres.

Sinistros de trânsito podem ser evitados, inclusive, de várias formas: redesenho das vias, diminuição de velocidade, alteração nas leis e fortalecimento de políticas públicas. Toda essa discussão é urgente, não somente em maio, mas ao longo de todo o ano. As mortes de pessoas nas vias são um reflexo da insegurança viária que ocorre no Brasil e em outros países também.

Quando olhamos para raça, números do MobiliDADOS mostram que somente em 2021, 59.34% das mortes no trânsito foram de negros e negras, e 22,51% eram de pessoas entre 20 e 29 anos. O perfil de mortes por sinistros de trânsito mostra que a insegurança viária afeta diretamente a população economicamente mais vulnerável. Ao analisar o uso da bicicleta, em 2021, foram registradas 33.813 mortes em sinistros de trânsito em todo o Brasil, de acordo com o DATASUS, do Ministério da Saúde. Os ciclistas respondem por 5% deste total, contabilizando 1.906 mortes em acidentes no país, número que tem aumentado a cada ano. Segundo o DataSUS, 35% das mortes são de motocicletas e em sua maioria homens negros e jovens, da mesma forma que os homens negros nas periferias são os maiores alvos da repressão do Estado.

Aqui no Instituto Aromeiazero, consideramos o mês necessário enquanto iniciativa, mas costumamos discutir sobre pautas ainda mais importantes, como as sociais todos os dias. Acreditamos que não só no mês de maio, mas sempre, elas precisam estar nas mesas de discussão de empresas, sociedade civil e governo.

Construir um trânsito seguro requer adotar uma perspectiva de gênero e raça no planejamento urbano e nas políticas públicas. Isso exige ter mais mulheres e pessoas negras ocupando cargos de poder no setor de mobilidade e transportes, esse é um exemplo de discussão que queremos ver no mês de maio.

Que os futuros Maio Amarelo sejam de muitos debates acerca das pautas mais urgentes e que levem em consideração a perspectiva de mulheres e pessoas negras, pois essa abordagem contribui na criação de cidades mais seguras para pedestres, ciclistas e usuários de transporte público.

Rogério Rai, mobilizar de territórios do Instituto Aromeiazero