São Paulo - O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, sugeriu que o grupo terrorista Hamas ama o presidente americano, Joe Biden. A manifestação ocorreu após o democrata ameaçar suspender o envio de armas a Tel Aviv se for concretizada a invasão de Rafah, cidade superlotada no sul da Faixa de Gaza.

Um dos políticos mais extremistas do gabinete do premiê direitista Benjamin Netanyahu, Ben-Gvir publicou um emoji de coração entre "Hamas" e "Biden" em sua conta na rede social X nesta quinta-feira (9). O grupo terrorista, que controla a Faixa de Gaza, liderou o ataque de 7 de outubro no sul de Israel que matou cerca de 1.200 pessoas, segundo Tel Aviv, e desencadeou a atual guerra no território palestino.

Ben-Gvir é o principal dirigente do partido radical Otzmá Yehudit (Força Judaica, em hebraico). Na guerra, o ministro tem pressionado o governo por ações mais duras contra o Hamas. Em outubro, por exemplo, insistiu que, enquanto a facção não libertasse os reféns, "nem um grama de ajuda humanitária" deveria entrar em Gaza - só "centenas de toneladas de explosivos da Força Aérea".

A crítica a Biden no X ocorre após o presidente americano dizer à rede de TV CNN que armas entregues a Israel pelos EUA vêm sendo usadas para matar civis e que Tel Aviv não terá o apoio de Washington se invadir Rafah, que atualmente concentra quase 1,5 milhão dos 2 milhões de habitantes de Gaza.

"Se eles entrarem em Rafah, não vou fornecer as armas que foram usadas historicamente para lidar (...) com as cidades", afirmou o presidente nesta quarta-feira (8), em uma das falas mais duras contra o aliado do Oriente Médio até aqui. "É simplesmente errado. Não vamos fornecer armas e projéteis de artilharia que já foram usados."

Nesta quinta-feira, Biden foi criticado pelo provável adversário, o ex-presidente Donald Trump, que o acusou de "estar do lado" do Hamas e chamou de "desgraça" as ameaças do presidente dos EUA de parar de entregar certas armas a Israel se o país lançar uma grande ofensiva em Rafah.

"O que Biden está fazendo com Israel é uma vergonha", disse o candidato republicano aos repórteres antes de entrar no tribunal de Nova York, onde está sendo julgado por ocultar um pagamento a uma atriz pornô. "Ele abandonou completamente Israel".

Trump declarou ainda, na rede social Truth Social, que "Biden é fraco, corrupto e está levando o mundo direto para a Terceira Guerra Mundial", acrescentou, afirmando que, se vencer a eleição em novembro, "exigirá a paz por meio da força".

Membros do governo Biden também se manifestaram. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, por exemplo, afirmou que Israel vai vencer a guerra "apesar da resistência do presidente Biden".

"Simplesmente não temos escolha, pois esta guerra é existencial e qualquer coisa que não seja uma vitória completa colocará a existência do Estado judeu em perigo", afirmou.

Smotrich e Gvir são conhecidos como os membros mais radicais do gabinete de Netanyahu. Em março do ano passado, o chefe da pasta de Finanças negou a existência do povo palestino durante um discurso em um evento na França. "Há história ou cultura palestinas? Não, não há", diz ele em um trecho do vídeo compartilhado nas redes sociais na ocasião. "Não existe povo palestino."

O presidente israelense, Isaac Herzog, mencionou o assunto durante um evento que celebrava a vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

"Mesmo quando há discordâncias e momentos de desapontamento entre amigos e aliados, as disputas devem ser resolvidas de uma certa maneira", afirmou. "É incumbência de todos nós evitar declarações e publicações infundadas, irresponsáveis e insultuosas que prejudicam a segurança nacional e os interesses do Estado de Israel."

Já o embaixador de Israel na ONU (Organização das Nações Unidas), Gilad Erdan, criticou Biden. "É uma declaração difícil e muito decepcionante por parte de um presidente ao qual temos sido gratos desde o início da guerra", disse Erdan à rádio pública israelense. Para ele, qualquer restrição a Israel "dá esperança aos inimigos".

Erdan reafirmou o que Israel tem repetido nos últimos meses: invadir Rafah é necessário para derrotar o Hamas. "Se Israel for impedido de entrar em uma área tão importante como o centro de Rafah, onde há milhares de terroristas, reféns e líderes do Hamas, como alcançará o objetivo de aniquilar o grupo?", questionou o embaixador israelense. "No final, o Estado de Israel fará o que acredita ser necessário pela segurança de seus cidadãos."

Em um sinal da crescente divergência entre Washington e Tel Aviv, Biden já havia retido, na semana passada, um carregamento para Israel de 1.800 bombas de 2.000 libras (907 kg) e 1.700 bombas de 500 libras (226 kg), por temor de serem lançadas sobre Rafah. A suspensão do envio foi confirmada na noite de terça-feira (7).

"Civis foram mortos em Gaza como consequência do uso dessas bombas e de outras maneiras pelas quais eles atacam centros populacionais", afirmou Biden à CNN, nesta quarta, quando questionado sobre os explosivos americanos.

O ex-primeiro-ministro israelense e atual líder opositor, Yair Lapid, pediu a saída do ministro extremista após o post. "Se Netanyahu não demitir Ben-Gvir hoje, estará pondo em perigo todos os soldados do Exército e todos os cidadãos do Estado de Israel", escreveu.

As críticas à manifestação de Ben-Gvir vieram da oposição, mas também de membros de partidos aliados. O membro da Assembleia Legislativa de Israel Matan Kahana, que integra a aliança do premiê, afirmou no X que a relação com os EUA "é uma pedra angular do conceito de segurança de Israel".

"Declarações desnecessárias e estúpidas e danos à confiança por não atendermos decisões acordadas com os americanos prejudicam nossa capacidade de nos mantermos firmes nos momentos importantes", escreveu ele.