Após viver uma vida toda de muito trabalho, esforço e força de vontade, os idosos merecem uma velhice tranquila e rodeada de muito amor e familiares. Entretanto, o Brasil registrou 78.185 casos de violência contra a pessoa idosa no primeiro semestre de 2024, o que mostra um aumento de 16,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

No Paraná, de acordo com os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, foram 2.873 casos nos primeiros seis meses de 2024; em 2023, foram 2.659.

Advogada especialista no terceiro setor, Josiane Ribeiro dos Santos Brito explica que, além da violência física e psicológica, a negligência é um dos principais tipos de abuso cometidos contra idosos, sendo visto, principalmente, na forma de omissão de cuidados e no abandono.

Nesse cenário familiar também há a violência financeira e patrimonial. “O abuso financeiro é caracterizado como uma exploração, é impróprio e é ilegal”, aponta, detalhando que um dos tipos mais comuns é o de familiares que fazem empréstimos utilizando o nome do idoso. Ela complementa que a violência patrimonial também pode ser vista nos casos em que filhos ou outros parentes forçam a vítima a assinar documentos transferindo bens ou imóveis.

Pelo Estatuto do Idoso, quem expuser a pessoa idosa a algum tipo de violência está sujeito a uma pena de dois meses a um ano de prisão, além da multa. Entretanto, a detenção pode chegar a até 12 anos em casos mais graves. “Já existe um projeto de lei tramitando no Senado que prevê o aumento dessas penas porque vem crescendo muito a violência contra essa população”, aponta, detalhando que, se aprovado, a pena pode chegar a até 14 anos.

Por isso, ela reforça que as denúncias são muito importantes para evitar que os abusos ou violência contra idosos levem a situações como a morte. As denúncias anônimas podem ser feitas pelo Disque 100, que é nacional, assim como nas delegacias e no Ministério Público.

Entretanto, Brito é enfática ao dizer que aumentar a pena não é suficiente, sendo necessário um trabalho educacional, principalmente com as crianças. “Nós temos que conscientizar as nossas crianças da importância da pessoa idosa”, reforça.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná disse que após o recebimento, a denúncia é lançada no Sigo (Sistema Integrado de Gestão de Ouvidoria) e encaminhada para a delegacia de competência para os procedimentos de polícia judiciária.

REDUÇÃO DE DANOS

Hoje, o Asilo São Vicente de Paulo atende 103 idosos vindos de situações de vulnerabilidade social ou violência encaminhados pelo município. Psicólogo da entidade, Marcelo Alves Pereira Filho aponta que a institucionalização é o último recurso e é utilizada quando o idoso não pode ser cuidado por sua rede de apoio, como filhos, irmãos ou primos.

Segundo ele, a institucionalização faz com que o idoso perca parte da sua liberdade e de seus vínculos. “Ele fica em um local que proporciona os cuidados necessários, mas ele também perde a autonomia da liberdade. É uma redução de danos”, explica.

A entidade recebe idosos vítimas de violência física, financeira e de negligência quanto aos cuidados necessários. “Quando eles chegam no asilo é sempre um estado de muita mudança, o que faz com que eles estejam muito vulneráveis porque saem daquele local que era habitual e são inseridos em uma instituição que tem regras, que tem um quarto que é coletivo”, detalha, complementando que, no início, muitos idosos ficam entristecidos, depressivos, ansiosos e até confusos.

Para promover um cuidado integral a esse idoso, o asilo conta com uma equipe multidisciplinar, com enfermeiro, psicólogo, assistente social, nutricionista e fisioterapeuta. O asilo é dividido em três alas, de acordo com o grau de dependência do idoso: na primeira ala, são alocados os idosos que conseguem caminhar e se alimentar sozinhos e são monitorados pelos cuidadores para que continuem desenvolvendo a independência. Nas alas 2 e 3, ficam os idosos que exigem cuidados mais intensivos e que são dependentes da equipe.

Pereira reforça que a humanização do cuidado com os idosos institucionalizados no asilo é uma das principais preocupações, principalmente ao fazer com que eles desenvolvam o sentimento de pertencimento à nova ‘casa’ e aos novos ‘familiares’.

“A partir do cuidado e da humanização, nós tentamos desenvolver esse pertencimento. Na chegada, nós também apresentamos a casa, as regras, entendemos quais são os alimentos que eles gostam de comer, se ele é religioso. A adaptação é reconhecer quem é o idoso e fazer com que ele consiga operar dentro do lar da forma mais positiva possível”, explica.

DOAÇÕES

Apesar da contrapartida do município, o Asilo São Vicente de Paulo conta com as doações da comunidade para dar continuidade ao trabalho, tanto de dinheiro quanto de alimento, roupas e itens de higiene. Todos os dias são servidas por volta de 650 refeições. Nos meses mais frios, o consumo de leite aumenta muito, então as pessoas podem priorizar, nesse momento, a doação da bebida, assim como de agasalhos para os idosos. As doações podem ser feitas diretamente na sede da instituição, que fica na avenida Madre Leônia Milito, 499, das 7h às 19h.