A convivência e o respeito à diversidade são valores fundamentais de uma escola acolhedora. O tema “Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso” integra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em conjunto com mais 14 temas chamados de Temas Contemporâneos Transversais.

Em destaque, a necessidade de a escola contribuir para aplacar toda discriminação preconceito e dialogar com a multiculturalidade. Dentre as práticas, exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos.

Nesse sentido, é papel também da escola, desde a Educação Infantil, o acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Em uma ação integrada entre a Secretaria Municipal de Educação (SME) e Secretaria Municipal do Idoso (SMI), alunos do P4 da Escola Santos Dumont, Jardim Industrial, região oeste de Londrina e idosas que frequentam o Centro de Convivência da Pessoa Idosa (CCI Oeste), tiveram um encontro bastante proveitoso e trocaram experiências.

Professores, alunos e o grupo de idosas que foram à escola: uma visita inusitada e com muitas trocas
Professores, alunos e o grupo de idosas que foram à escola: uma visita inusitada e com muitas trocas | Foto: Walkiria Vieira

A proposta intergeracional foi realizada na semana passada na sala de aula da unidade escolar e permitiu que as crianças na faixa etária de quatro a cinco anos conhecessem como eram os brinquedos de antigamente, a forma de brincar e também participassem - junto com aqueles que têm mais de 60 anos - de uma oficina de dobradura.

A interação entre as gerações fluiu naturalmente e, graças à medição das professoras Elisa Fernandes e Angélica Silva, idosos ecrianças formaram uma grande turma em uma roda de conversas e brincadeiras.

Conforme planejado, os alunos foram as anfitriões e estavam dispostos a ouvir dos sábios convidados o que tinham para contar e mostrar. A coordenadora pedagógica e diretora em exercício da unidade, Patricia Molina Gama, apoiou a ideia desde a sua concepção e valoriza a iniciativa da professora regente, Elisa Fernandes.

Gama considera a ação de unir as gerações uma alternativa de colocar em prática valores como o respeito aos mais velhos e a seus conhecimentos. "Nessa fase escolar, as crianças aprendem por meio de atividades vivenciadas de forma concreta e um encontro a exemplo desse - com todo o estudo prévio realizado, permite que se apropriem do conhecimento", ratifica.

A secretária municipal do Idoso, Andrea Ramondini, a diretora de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa Ana Karina Anduchuka e a coordenadora do CCI - Oeste Rosely Sonoda, prestigiaram o evento pedagógico e se encantaram com o desenvolvimento da reunião e seu resultado.

O encontro das crianças com as idosas gerou uma troca de experiências inédita na Escola Municipal Santos Dumont: brinquedos de antigamente foram mostrados aos alunos
O encontro das crianças com as idosas gerou uma troca de experiências inédita na Escola Municipal Santos Dumont: brinquedos de antigamente foram mostrados aos alunos | Foto: Walkiria Vieira

DIA DE VISITAS

A turma do P4 colocou em ação um plano para que o encontro ficasse na memória dos idosos. Além de uma sala bonita, colorida, limpa e toda organizada, mostraram que são bons ouvintes.

Curiosos, viram de perto e puderam tocar os brinquedos feitos pelas mãos dos idosos. Bola de meia, peteca feita de palha de milho e penas, boneca de sabugo de milho, pets feitos de legumes e o jogo cinco marias. "Uma batata e quatro palitinhos de madeira e está pronto um cachorrinho", ensina a idosa Nilce Leal Rodrigues, 71.

Rodrigues conta para as crianças que a criatividade vale muito na hora de brincar. "No meu tempo, não dava para ficar comprando brinquedos e acabávamos criando os nossos, sendo que isso já era uma brincadeira. Olha só esse feito de inhame, ficou parecendo um monstrinho", diverte-se.

Moradora do jardim Sabará, Maria de Lourdes Broietti leu uma poesia para as crianças e narrou como eram as brincadeiras em sua infância - dos meninos e das meninas. "Meus filhos e meus netos estudaram aqui e estar nesse espaço é gratificante."

Brincadeiras de criança

A poesia que Maria de Lourdes Broietti leu para os alunos

Fui criança bem esperta

Pulei corda e amarelinha,

Brinquei de bonecas de pano e casinha

Bonecas de sabugo e espiga de milho

Brincadeira de rodas, ciranda -cirandinha

Pega-pega, cobra-cega,

Lenço-atrás e bugalha

Mas não podia faltar

A famosa peteca de palha

SARAU GASTRONÔMICO

Para agradecer a visita e os conhecimentos compartilhados, os alunos criaram um cardápio e que foi parte da atividade. Pizza de brigadeiro, banana, suco de uva e suco de limão. Colocaram toda a equipe da cozinha para trabalhar e, com satisfação, as merendeiras levaram o banquete para a sala de aula.

Muito surpresos pelo gesto, os idosos demonstraram a gratidão e, durante o momento de partilha do alimento, receberam também uma presente que tem tudo para ser útil na rotina: uma sacola de tecido reutilizável.

De acordo com as professoras, a estampa das mãos das crianças na sacola integra um momento de estudo dos estudantes. "Estão aprendendo sobre lateralidade, qual é a mão direita, a esquerda e essa foi também uma oportunidade de colocar em práticas as lições aprendidas em sala de aula", explicam.

Na contrapartida, os alunos do P4 ofereceram  um lanche ao grupo de idosas, com direito à pizza de brigadeiro
Na contrapartida, os alunos do P4 ofereceram um lanche ao grupo de idosas, com direito à pizza de brigadeiro | Foto: Walkiria Vieira

É a primeira vez que a escola recebe uma atividade como essa. A ação segue os moldes de outro projeto desenvolvido anteriormente pela Secretaria do Idoso, chamado “Histórias que meus avós me contam”.

Segundo a secretária municipal do Idoso, Andrea Ramondini, momentos de relações intergeracionais são um importante modo de combater preconceitos contra o envelhecimento. “Essas relações de afeto e respeito mútuo perduram pela vida toda e fazem bem tanto para as crianças quanto para os idosos”, apontou a secretária.

A importância da integração intergeracional

Com o passar do tempo verifica-se que a população de modo geral está envelhecendo, tornando-se assim cada vez mais idosa. Para se ter uma ideia, de acordo com o censo de 2022, este grupo cresceu 57,4% nos últimos 12 anos.

É imprescindível destacar que, com o passar dos anos, o ser humano se desenvolve, aprendendo com as vivências trazidas pela vida. Com isso adquire experiência e sabedoria que somente a idade é capaz de lhe dar.

No entanto, também é importante lembrar que com o tempo perdemos o vigor de outrora, pois já não conseguimos realizar muitas das atividades que conseguíamos quando éramos jovens, crianças.

Dentro deste contexto a integração intergeracional entre crianças e a pessoa idosa é importantíssima, pois os idosos levam a estas crianças toda esta experiência que adquiriram durante sua vida, mostrando a elas a importância do aprendizado ao longo do tempo.

Também as crianças verificam que o tempo passa para todos, que um dia elas também irão envelhecer. Desta forma, neste contato entre as gerações, as crianças passarão a olhar as pessoas idosas com mais respeito e admiração, pois sabem que eles têm muito a ensinar e que um dia serão elas próprias em seus lugares.

Ressalta-se que para os idosos este contato também é importante, pois as crianças trazem a alegria e a pureza própria da idade e que foram perdidos ao longo do tempo.

Talita Rocha - Presidente da Comissão dos Direitos do Idoso da OAB - Subseção Londrina