"Tá Assustado?", novo álbum de Edvaldo Santana já está nas platafromas digitais, com as participações especiais de Arnaldo Antunes e do Duofel, este é o segundo disco-solo do artista que transita pelo samba, o blues, a salsa e o rock, como se não houvesse obstáculo.

Sua obra, peculiar e inventiva é forjada na periferia paulistana.

O blues já passou de acústico para elétrico, de negro para multirracial, de rural para urbano; mudou de corpo sem mudar de alma e renasceu brasileiro no ambiente "popcreto" de São Paulo. É a música de fundo da grande megalópole cujos pedaços estão incrustados em sua paisagem de viadutos e arranha-céus, multidões fadigadas, neon e terrenos baldios, onde se vê um banco japonês ao lado do ferro velho, um cinema pornô a seis passos de uma sinagoga, uma loja de informática ao lado de um sebo que vende' pulp magazines' dos anos 30. O blues emerge nesses ambientes, misturado ao cheiro de frituras, ao grito de camelôs, às guarânias sertanejas, às trilhas de novelas. É a música das vidas amargas, das almas sem rumo, dos corações solitários.

Edvaldo Santana: obra musical peculiar e inventiva é forjada na periferia paulistana
Edvaldo Santana: obra musical peculiar e inventiva é forjada na periferia paulistana | Foto: Edson Kumasaka/ Divulgação

NERVO EXPOSTO

A aspereza da voz e o nervo exposto do sofrimento sem melodrama, marcam o blues e saltam aos ouvidos no som de Edvaldo Santana, cantor e compositor. Ele mostra que sua obra não é um songbook de uma nota só: o blues existe como elemento químico que está presente em cada experimento mas reage de forma diferente a cada novidade com que entra em contato. De bluseiro, Santana tem a forma (pela técnica competente e desassombrada) mas acima de tudo tem o espírito, que em seu trabalho se infiltra até nos seus flertes com reggaes em "Cabeça Ocupada", uma das faixas do ábum, com o teleco-teco irreverente, em "Deus", ou nos ritmos alatinados de "Terapia."

O universo blues brasileiro já comporta um leque variado de talentos - André Cristóvão, Celso Blues Boy, Blues Etílicos e outros. A presença de Edvaldo Santana, como compositor e cantor, traz densidade a esse universo: ao contrário de outros estilos onde vale mais quem obedece às velhas fórmulas, no blues vale mais quem consegue injetar nelas uma marca pessoal.

A injeção eletrônica dos grooves seduz parceiros como Ademir Assunção, Arnaldo Antunes, Tom Zé, Osnofa, Glauco Matoso, Paulo Leminski, Haroldo de Campos. São nesses meticulosos bordadores de palavras que Edvaldo Santana encontra o contrapeso ideal para o lado nu-e-cru da ferocidade urbana do blues. Não se pensa contudo, que esse universo é apenas feito de violência e desespero; o que não falta nas canções de Santana é ironia cortante: "bois capados mascando seu amido" ("Inspirado"), um humor detergente que limpa sem dó as gorduras do sentimentalismo: "cuide bem de su arte mas não carregue a cruz" ("Amor Doente").

Nada mais distante de universo do que os lamentos de autopiedade: o que existe é uma autoafirmação que sabe não desdenhar nem a dor nem a alegria.

Confira as faixas de "Tá Assustado?"

01 - Caximbo - Edvaldo Santana - Osnofa

02 - Durango Kid - Edvaldo Santana - Ademir Assunção

03 - Amor Doente - Edvaldo Santana

04 - Domingo Blues - Edvaldo Santana

05 - Gata Borralheira - Edvaldo Santana

06 - Cara Carol - Edvaldo Santana

07 - O Dicionário Faliu - Edvaldo Santana - Tom Zé

08 - O Deus - Edvaldo Santana - Paulo Leminski - Ademir Assunção

09 - Cabeça Ocupada - Edvaldo Santana

10 - Terapia - Edvaldo Santana

11 - Inspirado - Edvaldo Santana - Arnaldo Antunes

12 - Até o Fim - Edvaldo Santana - Ademir Assunção

13 - Cosme e Damião - Domínio público

Imagem ilustrativa da imagem Edvaldo Santana lança novo álbum: 'Tá Assustado?'
| Foto: Divulgação

* Com assessoria de imprensa.