Em julho de 2023 a londrinense Adriane Arantes aceitou o desafio de trabalhar no futsal do Kuwait. Quase um ano depois, a hoje auxiliar técnica, comemora os resultados profissionais e a experiência pessoal em um país onde as mulheres ainda enfrentam muitos obstáculos para a prática esportiva.

Adriane Arantes ao lado das jogadoras do Al Oyoun do Kuwait
Adriane Arantes ao lado das jogadoras do Al Oyoun do Kuwait | Foto: Arquivo Pessoal

Formada em Educação Física, Arantes se especializou na preparação de goleiros e coordenou por dois anos as escolinhas do Londrina no estádio Vitorino Gonçalves Dias. No ano passado, após uma competição pelo LEC, recebeu o convite para ir para o outro lado do mundo.

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"Tem sido uma experiência bem desafiadora, mas muito legal. São outros hábitos, outra cultura e tudo muito diferente do Brasil", comentou a londrinense. O Kuwait é um país de pouco mais de 4 milhões de habitantes, situado entre a Arábia Saudita e o Iraque, na costa do Golfo Pérsico. A maioria da população segue a religião muçulmana.

Adriane Arantes foi contratada para ser preparadora de goleiras da equipe do Al Oyoun Sport Club, que significa menina dos olhos , função até então exercida somente por homens no país. Em seguida, se tornou auxiliar da técnica brasileira Scheila Heffel. As duas são as únicas estrangeiras do clube, localizado na cidade de Salmya.

"O Al Oyoun é um clube muito tradicional em relação aos costumes islâmicos e por isso dá preferência para profissionais mulheres. Caso contrário, as jogadores teriam que treinar de hijab (véu que cobre o rosto e o corpo), para cobrir o rosto, cabelo e orelhas, não poderiam treinar de calções", aponta. O Kuwait ainda não permite a presença de jogadoras estrangeiras. Apenas as equipes masculinas podem trazer jogadores de fora, inclusive é muito grande a presença de atletas brasileiros atuando no futsal do país.

Comissão técnica e jogadoras do time sub-18 do Al Oyoun
Comissão técnica e jogadoras do time sub-18 do Al Oyoun | Foto: Arquivo Pessoal

Na primeira temporada de Adriane no Kuwait, o clube disputou duas competições de futebol de campo, nas categorias sub-18 e sub-24, onde foi vice-campeão. E jogou também a Liga Nacional de Futsal e novamente ficou com o segundo lugar.

"Não dá para comparar em termos técnicos e táticos com o Brasil. Mas o nível técnico da competição foi muito bom. Temos três jogadores da nossa equipe que são da seleção e outras duas foram convocadas após a Liga, inclusive a goleira Fajer Baber, escolhida a melhor da competição", frisou.

"O Kuwait é um país muito apaixonado pelo esporte, mas existem algumas restrições. Em jogos de mulheres, apenas o público feminino pode assistir no ginásio. Acredito que a maior dificuldade para termos mais meninas jogando é a tradição das famílias, que não gostam de exposição, tirar fotos, internet. Até eu tenho dificuldade em divulgar mais o meu trabalho pois o clube não permite tanta exposição", ressaltou.

Apesar de ambientada ao país, cuja temperatura pode chegar aos 50ºC no verão e a menos de 10ºC no inverno, e em vias de renovação de contrato, Adriane revela que alguns costumes ainda a surpreende.

"Jogo futebol com os brasileiros que atuam aqui e alguns árabes também participam. Quando acontece a substituição normalmente tem um cumprimento entre quem está saindo e que entra. No meu caso, os árabes não me cumprimentam porque um homem não pode tocar em uma mulher em público. Se chego em uma fila de supermercado com mulheres usando o hijab, elas mudam de lugar para não ficarem perto de mim, que estou com o rosto descoberto", revela.