Nas últimas semanas, o governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD), anunciou que a Prova Paraná, que já é aplicada há alguns anos, vai ser reformulada para que sirva como uma nova forma de ingresso de alunos das escolas públicas nas sete instituições de ensino superior do estado. Nesse formato, 20% das vagas devem ser destinadas aos alunos de escolas públicas que fizerem a Prova Paraná Mais. O governo ainda não detalhou como o processo avaliativo será realizado. Essa prova tem como objetivo verificar o aprendizado dos alunos da rede estadual de ensino.

Presidente do Sinpro (Sindicato dos Profissionais das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná), André Cunha avalia que esse novo formato de ingresso pode gerar uma disparidade muito grande entre os alunos aprovados nesse formato e aqueles que são oriundos de processos seletivos, como os vestibulares e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “O ensino privado enxerga a importância da justiça social no sentido de permitir que pessoas ascendam profissionalmente, porém a impressão que passa é de que eles buscam primeiro o resultado e depois como chegar a esse resultado”, aponta.

Para ele, o governo deveria investir em programas para trazer mais qualidade para a educação pública, o que auxiliaria a reduzir a disparada entre os alunos.

Ele lembra que há muitas experiências interessantes sendo desenvolvidas nas escolas públicas, muitas delas por iniciativas dos próprios professores e que poderiam ser reproduzidas. O Sinpro é parceiro no projeto Folha Cidadania, da Folha de Londrina, que semanalmente mostra essas experiências em salas de aula das escolas municipais ou estaduais.

POLÍTICA DE COTAS

André Cunha aponta que a política de cotas atingiu de forma importante determinadas populações, como negros, indígenas, estudantes de escolas públicas e pessoas com deficiência. Na opinião do presidente do Sinpro, essa política de cotas deve ser mantida.

Entretanto, ele critica o fato de o acesso ao ensino superior ser tratado como “política de Estado” ao criar diversas formas de ingresso para alunos do ensino público como, agora, a Prova Paraná Mais, enquanto há uma redução no número de vagas destinadas ao sistema universal.

Para André Cunha, ao investir na qualidade da educação pública, o governo não precisaria criar novos mecanismos de cotas para esse público. “É um atestado de que a educação pública não consegue concorrer com outros níveis educacionais e por isso está garantindo isso”, aponta.

Nesse cenário, a solução encontrada é mascarar a defasagem e ampliar o ingresso dos estudantes vindos da rede pública no ensino superior. “A impressão que passa é de que estão jogando para o ensino superior o ônus de formar profissionais que ingressaram muitas vezes de forma não capacitada”, aponta Cunha.

ENSINO SUPERIOR

“A gente tem percebido, de maneira geral, a diminuição dos índices de qualidade do ensino superior”, opina, complementando que a queda é visível ao observar os resultados de provas de classes, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos), em que ele aponta que apenas 8% dos médicos são aprovados na prova. “Você começa a perceber a qualidade do ensino superior sendo precarizada”, alerta.

Segundo ele, o governo deveria estabelecer parâmetros avaliativos desde a educação básica, assim como desenvolver uma sinergia entre os professores e as plataformas utilizadas em sala de aula. “É uma sucessão de plataformas”, ressalta, complementando que, ao ver o nível de aproveitamento de exames nacionais, a educação pública ainda está muito atrás do ensino privado.