O que a educação pode proporcionar? Superação de desafios, consciência sobre a força de se trabalhar em equipe, o desenvolvimento de novas habilidades, além da própria aprendizagem diária. Essas foram algumas das experiências vividas nos últimos meses por um grupo de alunos de 2º e 3º ano do colégio Estadual Nossa Senhora de Lourdes, na Vila Siam, zona leste de Londrina.

Os estudantes conquistaram a medalha de prata na categoria ensino médio de escolas públicas na primeira participação na Olimpíada Brasileira de Tecnologia, que neste ano chegou à terceira edição. A competição, que reuniu cerca de 5.400 adolescentes e jovens de todo o Brasil, é realizada pelo Instituto Alpha Lumen, instituição sem fins lucrativos que promove ações educativas, com o apoio do IAT (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e do MIT (Massachusetts Institute of Technology) Brasil.

O colégio londrinense foi o único do Paraná a garantir o segundo lugar. As outras três unidades educacionais que também ficaram com esta colocação são do Tocantins, Minas Gerais e Maranhão. “Aprendemos muito. Nunca gostei, por exemplo, de programação e me diverti fazendo. Se não tivéssemos aceitado (o convite do colégio) iríamos ter perdido muito conhecimento. (Essa conquista) é um marco na nossa história. Vendo tudo que passamos, vejo que aprendemos muito. Fizemos por merecer”, comemora o estudante André Marques.

O caminho para ver o nome do grupo entre os destaques nacionais foi árduo e repleto de desafios. A primeira fase da olimpíada foi dividida em duas etapas: uma prova on-line com questões de matemática e raciocínio lógico, e a outra a produção de um vídeo propondo uma solução tecnológica para um desafio na rotina do colégio, baseada nos pilares dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).

Aplicativo proposto pelos estudantes
Aplicativo proposto pelos estudantes | Foto: Reprodução

AGENDA + ESCOLA

Com a classificação para a segunda fase, os alunos passaram a criar o protótipo do aplicativo para celular, que denominaram “Agenda + Escola”. “A proposta é de um aplicativo para facilitar a comunicação direta dos estudantes com professores, pedagogos, secretaria e direção. Hoje essa comunicação acontece muito por grupos de WhatsApp e temos dificuldade de definir o que é prioritário, a informação pode se perder”, conta a aluna Ana Julia.

A ferramenta foi criada a partir da tecnologia ofertada pela organização do evento e teve que ser pensada desde as cores e tipos de ícones até a divisão estrutural, com abas de mural, agenda com calendário geral da Seed (Secretaria de Estado da Educação) e eventos do colégio, possibilidade de solicitar demandas junto à gestão escolar, como histórico, e o acionamento do grêmio estudantil. “Foi desafiador. Sabíamos da nossa capacidade, mas competimos com outros grandes colégios. Foi um grande trabalho em equipe”, definem Gabriel Alexandre e Gabriel Baruk.

‘BRILHA MAIS QUE OURO’

Somando as duas fases foram seis alunos participando de forma direta e aproximadamente 20 colaborando de maneira indireta, além do apoio de professores, equipe pedagógica e direção. O protótipo do aplicativo já foi feito e agora a dedicação é na programação. “Não conhecíamos a plataforma que iriam disponibilizar, mas conseguimos dar conta de tudo”, afirma Davi Pattarelli. “Fizemos o design dos ícones e trabalhando juntos tivemos as melhores definições em busca do melhor”, acrescenta Fernanda Aljarilla Satlsler.

“Entre 173 instituições no Paraná, somente nós e uma escola de Francisco Beltrão (bronze) conseguiram avançar. Estamos num momento em que não conseguimos mais separar o profissional do sentimento materno. Acreditaram na nossa ideia e mostraram que são capazes. É uma prata que para nós brilha mais que ouro”, emociona-se a professora Maristela Costa Alencar, responsável pelo atendimento educacional especializado da escola em tempo integral do colégio.

Grupo busca dinheiro para ajudar em participação de semana imersiva em SP

A dificuldade dos estudantes agora é outra. Correndo contra o tempo, eles estão tentando arrecadar dinheiro para participar, no final de julho, da entrega da premiação e de uma semana imersiva da olimpíada em São José dos Campos, em São Paulo. Na cidade terão a oportunidade de assistir palestras da área da tecnologia, ter contato com trabalhos de outras escolas e saber mais sobre o ITA

O valor será usado para confeccionar camisetas e ajudar nos custos durante os dias em que estarão no município paulista. A Seed disponibilizou um montante para bancar o transporte, estadia, hospedagem e translado de seis alunos. Eles serão acompanhados por dois professores. “Essa é a oportunidade para aprofundarem o conhecimento, conhecerem outras realidades e verem que a educação pode levá-los a muitos lugares. Muitos gostam da área da tecnologia e não podemos deixar (o sonho deles) acabar por aqui. Para muitos será a primeira experiência fora da cidade”, frisa a professora de biologia e coordenadora da área de práticas experimentais, Cristiane Moreno Martins.

Segundo a professora Renata Cristina Evaristo, o exemplo dos estudantes que venceram a prata tem motivado o restante da escola. “Eles tiveram acesso a um universo que não imaginavam. Viram o que está por trás de uma tela, tiveram aprendizado que vão levar para a vida toda. Participando em São José dos Campos poderão se deparar com uma profissão”, valoriza a docente de matemática e coordenadora da área de exatas.

A própria classificação do colégio logo na estreia chamou a atenção da própria organização da prova. “Os estudantes, no início, tinham poucas perspectivas para conquistar algum prêmio. Estávamos mais com o intuito de tornar essa prática uma experiência de vida. Dia a dia o trabalho foi sendo fortalecido, a autoestima foi intensificando e o time se transformou num grande potencial. Foi um processo incrível”, pontua a diretora do colégio Nossa Senhora de Lourdes, Venessa Valero.

SERVIÇO - Quem puder colaborar com os alunos pode entrar em contato pelo número 43 99955-3333 (professora Cristiane).